Consumo excessivo de energético pode prejudicar a saúde do coração e do sono

Cerca de 22 milhões de domicílios brasileiros passaram a incluir, em 2024, as bebidas energéticas na rotina, o que corresponde a 38% das casas do país. Os dados são de um levantamento feito pela empresa de pesquisas Kantar, que também aponta 9 milhões de novos compradores dos produtos fora de casa. Esses números revelam uma tendência de consumo entre os brasileiros, mas também acende o alerta sobre os impactos que a ingestão excessiva dos chamados estimulantes pode trazer à saúde.
Composição
Além de utilizados por quem quer se manter acordado, os energéticos também costumam ser consumidos por praticantes de atividade física e também em festas, misturados a bebidas alcoólicas. Independente do uso, a ingestão excessiva pode trazer prejuízos à saúde, graças aos ingredientes do produto. “O principal componente é a cafeína, que pode variar de 50 a 300 mg por latinha, além de açúcares, que fornecem calorias rápidas e contribuem para o ganho de peso, picos glicêmicos e efeito metabólico, além da taurina”, explica o Prof. Dr. Diego Leite, nutricionista esportivo e docente do curso de Nutrição do Centro Universitário Tiradentes (Unit-PE), localizado na Imbiribeira, ao lado do Geraldão.
A cafeína, também encontrada no café, em chás, refrigerantes e chocolates, por exemplo, bloqueia receptores cerebrais de uma substância chamada adenosina, produzida pelo corpo para dar sono. Assim, ela “aumenta a sensação de alerta, reduz a sensação de fadiga e aumenta a liberação de adrenalina”, pontua Diego. Já a taurina é um estimulante que, quando combinado com a cafeína, produz efeitos aditivos ou até sinérgicos no coração e vasos sanguíneos. Outros ingredientes também podem ser encontrados nos energéticos, como guaraná e vitaminas do complexo B, que também têm funções estimulantes e influenciam o metabolismo.
Energético antes do treino
Segundo Diego, essas substâncias, em especial a cafeína, de fato ajudam os praticantes de esportes de força, melhorando a resistência e a potência, e reduzindo a percepção de esforço. “Mesmo que melhorem a performance, os energéticos podem elevar pressão arterial e frequência cardíaca (FC) durante o exercício e aumentar respostas cardiovasculares ao esforço. Em indivíduos sensíveis, com doença cardiovascular, hipertensão, arritmias ou que usam certos medicamentos, isso é potencialmente perigoso”, alerta.
Em muitos casos, também é comum que algumas pessoas que praticam atividades físicas misturem as bebidas energéticas com o chamado pré-treino, suplemento que serve para dar mais energia para os exercícios. “Muitos pré-treinos contêm cafeína e outros estimulantes. O risco é cumulativo: você pode ultrapassar a dose segura de cafeína e receber efeitos aditivos de outras substâncias que aumentam a pressão e a FC. A combinação também aumenta a chance de palpitações, agitação, náuseas e, em casos raros, arritmias”, comenta Diego.
Rotina de sono
Já o uso para quem quer se manter acordado também pode trazer prejuízos, caso vire hábito. “A cafeína pode atrapalhar a qualidade do sono, mesmo que a pessoa consiga dormir, porque a substância permanece ativa no corpo de 6 a 8 horas, aumentando o tempo para adormecer, deixando o sono mais leve e fragmentado e reduzindo o sono profundo, que é a fase mais restauradora”, afirma o Prof. Dr. André Batista, médico do sono e docente da Faculdade Tiradentes (Fits), localizada em Goiana.
Energéticos e álcool
A mistura dos energéticos com o álcool também é perigosa, conforme aponta Diego. Esse hábito é comum entre jovens, em festas, pois as bebidas estimulantes podem disfarçar o sabor das alcoólicas. “Energéticos mascaram a sensação subjetiva de intoxicação, então o indivíduo fica ‘menos bêbado’, levando-o a consumir mais álcool, a uma maior probabilidade de beber em excesso, dirigir embriagado, comportamentos sexuais de risco, agressão e maior risco de dependência”, comenta o nutricionista.
Quantidades de cafeína e alternativas
Para evitar os riscos do excesso de energéticos, Diego recomenda ficar atento à quantidade de cafeína de todas as fontes da substância consumidas em um dia, como café, chá, refrigerantes, pré-treino e o próprio energético. De acordo com o professor, a ingestão habitual de até 400 mg de cafeína por dia não traz preocupações para adultos saudáveis e fisicamente ativos. Para a maior parte das pessoas, no entanto, o recomendado é até 200 mg diários.
O nutricionista também destaca que grávidas, pessoas sensíveis, com hipertensão, arritmias, ansiedade, ou em uso de certos medicamentos devem reduzir o consumo ou evitar os energéticos. Nesse caso, ele cita outras maneiras de se manter alerta. “Sono adequado e higiene do sono, cochilos de 10 a 30 minutos, hidratação e lanche com carboidrato e proteína antes do treino”, menciona. Além disso, ele acrescenta que o consumo de chás ou café de 30 a 60 minutos antes dos exercícios é preferível em relação aos energéticos, por terem ingredientes e doses de cafeína mais controlados.